terça-feira, 1 de abril de 2014

Gessagem - Antes, Durante ou Após a Calagem ?

O gesso agrícola por possuir cálcio (Ca) não significa que ele tenha características de neutralizar a acidez do solo como faz o calcário. No calcário, o CO3 e o bicarbonato são responsáveis pela reação de neutralização. Por sua vez, o cálcio (Ca) permanece na solução do solo ou adsorvido ao complexo coloidal. Por outro lado, o gesso agrícola, na hidrólise, libera o Ca²+ e o SO4². Esses íons não neutralizam a acidez.
CaSO4.2H2O .......... Ca²+ + SO4²-
O gesso agrícola, no caso de solos ácidos, apresenta uma vantagem muito grande ao promover um maior desenvolvimento do sistema radicular das plantas, criando condições para que as raízes absorvam nutrientes e água nas camadas mais
profundas do solo.

No solo com gesso há formação de complexos de maior solubilidade que facilitam as perdas de Ca e outros cátions por lixiviação. Entretanto, a adsorção de sulfato às argilas e óxidos faz com que essa lixiviação seja retardada, porque os cátions precisam estar juntos com ânions.
O gesso agrícola, além de favorecer a movimentação de cátions ao longo do perfil do solo, ele reduz os níveis de alumínio (Al³+) tóxico para as plantas, com formação do sulfato de alumínio (AlSO4) pouco absorvido pelas raízes . A partir disso, os íons Al³+têm a sua atividade reduzida na solução do solo, bem como o alumínio trocável. Mas para atingir esse objetivo, grandes quantidades de gesso agrícola são necessárias. Entretanto, a acidez do solo se mantém.
Quanto à solubilidade em água, a do gesso agrícola é 172 vezes maior que a do carbonato de cálcio.
Nas plantas com sistema radicular profundo, a aplicação de gesso agrícola ajuda a aumentar os teores de Ca e Mg e proporcionar uma maior desenvolvimento do sistema radicular da planta. Nos solos ácidos que apresentam baixos teores de Ca e alto Al³+ na camada subsuperficial, a aplicação de gesso aumenta o Ca²+ na solução do solo da camada subsuperficial e neutraliza o Al³+ na camada profunda. Quando se deseja aumentar a relação Ca/Mg de 1:1 para 3 a 5:1 sem alterar o pH, o gesso agrícola pode ser utilizado, pois aumenta o teor do Ca na solução do solo.
LEIA: Alumínio (Al³+): o inimigo das plantas

A neutralização da acidez na camada de 0-20 cm é feita com calcário (calcítico ou dolomítico dependendo do caso) incorporado ao solo de maneira uniforme. O gesso agrícola pode ser utilizado como complemento da calagem e sua quantidade depende da recomendação feita pela pesquisa de cada região. Geralmente, se usa de 1/4 a 1/3 da quantidade recomendada de calcário.
LEIA: Cálculo da calagem em função do teor de argila do solo
Cálculo da calagem em função do fosforo remanescente
Substituindo parte do calcário pelo gesso agrícola


Aplicar calcário junto ou com antecedência ao gesso agrícola?


Sobre a aplicação do gesso agrícola junto com o calcário existem muitas controvérsias. Uns dizem que a aplicação de calcário junto com o gesso agrícolareduz a ação do calcário como neutralizante da acidez do solo. Por ser mais solúvel, o gesso satura com cálcio a solução do solo e diminui a velocidade de reação de hidrólise do calcário.
Outros pregam a aplicação do calcário antes do gesso agrícola em 60 a 90 dias e com boas condições de umidade no solo. O calcário precisa de umidade no solo para uma boa reação de suas partículas. Assim sendo, o Ca²+ e o Mg²+ ocupam o maior número de cargas negativas dos coloides do solo. Consequentemente, o valor do pH irá aumentar, pois o (CO3)² corrigirá a acidez do solo. Com a aplicação do gesso agrícola haverá um aumento dos íons Ca²+ e SO4- na solução do solo. O aumento do pH proporcionará uma menor adsorção do sulfato. O sulfato descerá com a água de percolação para a camada mais profunda do solo, levando junto cálcio e magnésio dissolvidos na solução do solo. O cátion K+ da solução do solo passa ocupar as posições dos íons H+, não percolando com facilidade.
Há, ainda, os que pregoam a aplicação de gesso antes do calcário. Neste caso, a dissociação do gesso promoverá a ocupação do cálcio nos pontos de troca dos coloides do solo e, também, na solução do solo. Por sua vez, como não houve neutralização da acidez, o íon SO4² ficará adsorvido aos minerais do solo. Dessa maneira, a percolação do sulfato carregando Ca e Mg é bem menor.


Disso tudo, chega-se à conclusão que a aplicação de calcário com antecedência ao gesso agrícola trará maiores benefícios.
O gesso pode ser considerado um condicionador do solo, principalmente quando se quer aumentar o nível de cálcio, sem elevar o pH do solo.

SUBSOLAGEM, APLICAÇÃO DE GESSO AGRÍCOLA E DE ENXOFRE ELEMENTAR EM SOJA EM ÁREA DE VÁRZEA

Clique no link abaixo para ver o experimento:

http://www.cbai2013.com.br/cdonline/docs/trab-1307-380.pdf

segunda-feira, 25 de março de 2013

Demora para escoar soja eleva em 50% valor do frete




A falta de infraestrutura dos portos brasileiros para escoamento da produção nacional de soja tem causado impacto diretamente na rentabilidade das empresas exportadoras da oleaginosa, que precisam arcar agora com um custo não previsto em seu planejamento.

Um dos exemplos a comprovar esse prejuízo é o aumento do frete rodoviário e do demurrage - estadia para navios nos portos - que subiu por conta da demora em embarcar os grãos.

No caso do rodoviário, espera computada hoje em 60 dias até o porto de Paranaguá, no Pará, e de 32 dias, até Santos, o valor do frete saltou 50% este ano, quando comparado com 2012 - de US$ 100 para os atuais US$ 150, a tonelada do grão. Já o demurrage chega a custar cerca de US$ 20 mil a US$ 25 mil por dia.

Um executivo, que preferiu não se identificar, contou ao ao Brasil Econômico que todas as companhias processadoras e exportadoras do grão e seus derivados previam para essa safra um frete 30% abaixo do praticado pelo mercado, o que está levando muitas delas ao desespero.

"Os executivos estão se `descabelando´. Estão tomando prejuízo, trabalhando e perdendo receita. É um verdadeiro caos e não sabem como lidar com ele. O frete acabou com a margem de lucro das empresas", afirma, observando que 80% da safra matogrossense já foi vendida - a região concentra a maior produção de soja do país.

As empresas Cargill e Bunge foram procuradas, mas afirmaram que não comentam o assunto.

E pelo andar da carruagem, esse problema tende a se agravar no decorrer dos próximos dias já que há, segundo Daniel Furlan Amaral, gerente econômico da Associação Brasileira da Indústria de Óleo e Vegetais (Abiove), uma alta demanda também por outros grãos como o milho, sem contar o açúcar.

"O escoamento de todos esses produtos em um só período fez com que aumentasse a disputa pelo frete. As companhias não esperavam por uma variação de preço dessa magnitude", observa o executivo.

A safra brasileira de grãos subiu 45 milhões de toneladas no período de cinco anos, saindo de 135 milhões de toneladas para 180 milhões de toneladas.

Carlos Fávaro, presidente da Aprosoja, entidade que representa todas as companhias que trabalham nessa frente, chega a argumentar que a agricultura brasileira cresce a ritmo chinês, sendo o principal condutor do superávit da balança comercial brasileira nos últimos anos.

"Apesar de um cenário `positivo´ para a safra brasileira, vamos perder concorrência por termos uma infraestrutura de 40 anos que não permite o escoamento da produção. O Brasil está querendo envelhecer sem nunca ter se tornado competitivo", dispara.

Diante de um problema sem solução imediata, Fávaro alerta que a soja deixada de ser negociada agora trará na próxima negociação prejuízos diretos ao produtor.

"As trading vão colocar o custo de incapacidade de carregamento e quem paga é o produtor. A formação de preço será certamente menor."

Cristina Ribeiro de Carvalho
Fonte: Brasil Econômico

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Fretes aumentam com nova lei




Passados mais de quatro meses desde que foi sancionada e após uma paralisação da categoria ao fim de julho e um período de fiscalização com caráter educativo, a chamada "lei do caminhoneiro" entra efetivamente em vigor amanhã, quando os motoristas poderão ser multados se descumprirem as regras.

A Lei n 12.619 continua alvo de críticas e tem exigido uma série de adaptações operacionais e financeiras pelas grandes transportadoras brasileiras. A obrigatoriedade de um descanso de 30 minutos a cada quatro horas de rodagem, o respeito de uma hora diária para almoço e o repouso por 11 horas a cada 24 horas trabalhadas são alguns dos fatores que têm levado as empresas a aumentarem o número de funcionários próprios ou terceirizados. Segundo companhias consultadas pelo Valor, os custos já apresentam um aumento de até 40%.

Até o momento, a Gafor Logística conseguiu ajustar 70% de seus contratos e aponta uma elevação de 20% a 30% no valor do frete, por conta do maior número de veículos e também de motoristas, cuja quantidade subiu 35%. A avaliação sobre a nova legislação, contudo, é positiva.

"A lei tem um período natural de ajuste, traz uma mudança enorme, mas normatiza o segmento. A médio ou longo prazo ela é favorável", diz o presidente da Gafor, Sergio Maggi Júnior.

No caso da JSL, o impacto foi menor, dado que pouco mais de dois terços dos trajetos são de curta distância e pelo fato de os caminhões da empresa não rodarem após as 22h. Ainda assim, em casos específicos, o aumento do custo pode chegar a 40%. "Todas as operações sofrem impacto, ainda que pequeno", comenta o diretor de operações da companhia, Adriano Thiele.

Por conta da parada obrigatória após quatro horas de trabalho, a JSL promoveu algumas mudanças. Os motoristas rodam agora com diários de bordo onde precisam registrar cada parada.

"O procedimento de gestão muda bastante, mas a rotina do motorista não sofre impacto. As operações mais afetadas são as de cargas perecíveis. Em alguns casos, tivemos de chamar motoristas adicionais, mas essas são apenas operações pontuais", ressalta o executivo da JSL, empresa que conta hoje com cerca de 7 mil motoristas e segue em período de contratações.

A JSL também considera a nova regulamentação positiva, mas avalia que os motoristas precisam contar com infraestrutura para cumprir a nova legislação. A lei estabeleceu que deveriam ser montados pontos de apoio a cada 200 quilômetros nas rodovias, mas o item foi vetado pela presidente Dilma Rousseff.

"Contamos com 139 filiais, mas existem muitos motoristas sem ter onde parar hoje. Ainda há um dever de casa para ser cumprido", observa Thiele.

A Mira Transportes calcula um aumento de ao menos 30% no seu quadro de motoristas que operam em longas distâncias - percursos a partir de 600 quilômetros. O presidente-executivo da empresa, Carlos Mira, também relata dificuldade em novas contratações e, por conta disso, tem realizado treinamentos e promovido funcionários ao cargo de motorista. A frota da empresa de transportes só não sofrerá um crescimento acima do normal porque os negócios estão mais desaquecidos.

"Todo ano, atualizamos a frota, atualmente de 550 veículos, comprando até 20% a mais. Desta vez, a alta será de apenas 10%, porque tivemos um primeiro semestre ruim", conta Mira.

A Atlas Transportes & Logística ainda não sentiu necessidade de aumentar o quadro de motoristas para grande parte de suas operações por elas serem, em sua maioria, de curta distância. Já para os trechos mais longos, a empresa deverá elevar a quantidade e a participação de terceiros, em função da redução do número de viagens realizadas pelos veículos.

"A indústria será obrigada a rever seu planejamento de vendas considerando os novos prazos de entrega. Já os operadores logísticos e as transportadoras deverão estudar formas de compensar a produtividade dos veículos através de uma melhor programação de transporte, redução dos tempos de carga e descarga e agendamento das entregas como forma de minimizar os custos agregados à operação. Ainda assim, é bem provável o repasse, mesmo que parcial, dos custos nos fretes de nossos clientes", diz o diretor de planejamento e marketing da Atlas, Lauro Felipe Megale.

Também favorável à legislação, ele destaca que as novas medidas poderão contribuir para a redução dos índices de acidentes nas estradas brasileiras.

Beatriz Cutait
Fonte: Valor Econômico