domingo, 19 de junho de 2011

Quando o corretivo não é bem utilizado

Por Wignez Henrique1

Já dizia o antigo ditado que "cavalo dado não se olha os dentes", mas na verdade há de se tomar cuidado com o presente, uma vez que a manutenção do cavalo pode custar muito caro.

O fato ocorreu foi em uma propriedade em Tanabi, noroeste do Estado de São Paulo, que apresentava solo de baixa qualidade, desgastado, com pasto degradado. Há cerca de 10 anos atrás, foi feita a implantação de novas pastagens com Panicum maximum eBrachiaria decumbens cv. Marandu. Nessa implantação e no decorrer dos anos seguintes foram feitas correções do solo e adubações relativamente altas de nitrogênio, fósforo e potássio. As pastagens foram utilizadas para cria e engorda de bovinos de corte. O solo chegou a 70% de saturação de bases e permaneceu nesse patamar por alguns anos, essa e as outras características do solo em maio de 2003 podem ser vistas no quadro abaixo.

Nos meados do ano passado, algumas empresas ofereceram gratuitamente o gesso (sulfato de cálcio), e recomendaram a adição desse corretivo nas pastagens da região. O único gasto seria com o frete do carregamento do gesso até a propriedade. A recomendação era que fosse utilizado o gesso como fonte de enxofre, uma vez que contém cerca de 15% desse elemento. Assim, o dono dessa propriedade distribui cerca de 450 kg de gesso/ha, em meados de 2003.

Também no quadro abaixo é mostrada a análise do mesmo solo realizada em maio de 2004. Vale lembrar que ambas as análises foram realizadas em amostras retiradas na camada de 0 a 20 cm de profundidade do solo, e que ambas foram realizadas no mesmo laboratório.

Quadro 1 - Análises de solo de uma mesma área no município de Tanabi, SP, realizadas em anos subseqüentes pelo mesmo laboratório


Ocorreu uma verdadeira "lixiviação" de alguns nutrientes e a adsorção de outros, tornando-os indisponíveis para as plantas. Ou seja, o solo que tinha excelentes características, principalmente ao considerarmos a região e sendo área de pasto, tornou-se um solo de média a baixa fertilidade, e o pior, em prazo muito curto.

É ainda necessário tomar-se as devidas precauções na recomendação da aplicação do gesso, precauções essas já publicadas há muitos anos atrás e que englobam medidas anteriores à recomendação da aplicação do gesso agrícola:

- fazer amostragens e análises do solo tanto da camada de 0-20 cm, como nas camadas subsuperficiais, 20-40 e 40-60 cm, prestando-se atenção nos possíveis desbalanços de magnésio e potássio;

- observar se existem sintomas visuais de deficiência nas plantas forrageiras (em gramíneas, o sintoma principal é o amarelecimento das folhas mais novas, precedendo o amarelecimento das folhas mais velhas);

- e também realizar análises foliares.

A forma ainda mais "segura" de se corrigir a deficiência de enxofre nas pastagens é distribuindo adubos nitrogenados e fosfatados que contenham esse elemento. Além disso, parte do enxofre é reposta naturalmente por gases da atmosfera.

O uso do gesso agrícola, como corretivo, não dispensa o uso do calcário, talvez até exija essa associação. Além disso, doses máximas recomendadas são de 300 kg/ha, segundo a literatura.

Como fonte de enxofre, deve-se recomendar com cautela esse corretivo, talvez até utilizando-se doses menores e distribuídas no decorrer de alguns anos, e principalmente, após a serem detectadas deficiências desse nutriente nas plantas. 

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