terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Necessidade de Gessagem

Os solos brasileiros, em geral, apresentam baixos teores de cálcio (Ca) e altos teores de alumínio (Al) trocável. Isto ocorre, com ênfase, nas camadas mais profundas. Desta maneira, o desenvolvimento radicular é superficial e aí concentrado. Disto ocorre que as plantas sofrem com os veranicos e a absorção de nutrientes 
é limitada à área de desenvolvimento das raízes. Comparando plantas que tiveram um aporte de gesso na camada de 20-40cm e 30-60cm elas tiveram um desenvolvimento de raízes em área e em profundidade. Nas profundidades subsuperficiais a concentração de raízes chegou a 29% e nas camadas mais profundas, ainda, a concentração de raízes foi de 19 a 12%. Já as plantas que não tiveram um aporte de gesso agrícola, a concentração de raízes foi maior na camada de até 20 cm. Nas camadas mais profundas de 40-60 cm, a concentração de raízes chegou a 1%.
Benjamin Franklin foi um líder fazendeiro e tentou aumentar a produção e qualidade das plantas. Tornou-se muito conhecido, nesta área, por ter aplicado sulfato de cálcio (gesso) em uma colina perto de Filadélfia. Ele escreveu as palavras: “Esta terra foi corrigida com gesso”.
O gesso é um subproduto das indústrias de fertilizantes. Para a obtenção do ácido fosfórico, as rochas fosfatadas são atacadas pelo ácido sulfúrico e desta reação são obtidos o sulfato de cálcio (gesso) e o ácido fluorídrico. Tratando-se a rocha fosfatada com uma quantidade maior de ácido sulfúrico, obtém-se ácido fosfórico e sulfato de cálcio (gesso) sólido em suspensão. O sulfato de cálcio é separado por filtração, originando uma grande quantidade de gesso como subproduto. Por tonelada de ácido fosfórico produzida, obtém-se quase 5 (cinco) toneladas de gesso.
Como o cálcio é pouco móvel no solo e quase nenhuma mobilidade na planta, o efeito da calagem não se observa nas camadas mais profundas. Mas o nutriente cálcio é importante para a planta. No café, as raízes vão atrás do cálcio e nos locais que ele não existe não haverá crescimento das mesmas. Por outro lado, o alumínio (Al³+), que é tóxico para as plantas quando em altas concentrações, está presente nas camadas mais profundas onde o calcário não consegue atingi-las. Desta maneira, altos teores de alumínio e baixos teores de cálcio nas camadas mais profundas não favorecem o desenvolvimento radicular e, assim, as raízes não conseguem buscar água e nutrientes.
O gesso agrícola, sulfato de cálcio, contém cálcio e enxofre (S). Contém 32% de CaO e até 19% de S. Ele se dissocia em Ca²+ e SO4²-. Mas o gesso não é um corretivo para neutralizar a acidez do solo. Tão pouco tem a capacidade de elevar a “Capacidade de Troca de Cátions – CTC”. Ele é um condicionador do solo.
Os benefícios do gesso agrícola são vários. Entre eles:
1) o ânion SO4²- imprime uma maior mobilidade ao cálcio levando-o para as camadas mais profundas;
2) por sua vez, o íon sulfato se liga ao alumínio formando um sal, o sulfato de alumínio (AlSO4) , que é menos tóxico para a planta;
3) fornece cálcio e enxofre para as plantas.

Quando aplicar o gesso agrícola
O gesso deve ser aplicado quando, no mínimo, uma destas condições seja satisfeita:
a) teor de cálcio (Ca) menor ou igual a 0,4 cmolc/dm³ ou 4 mmolc/dm³. Para transformar cmolc em mmolc basta multiplicar por 10;
b) teor de alumínio (Al) maior que 0,5 cmolc/dm³ ou 5 mmolc/dm³;
c) saturação por alumínio (m%) maior que 30%. Alguns citam 20%.
O produtor agrícola pensando em aplicar gesso deve providenciar na análise do solo. Neste caso, a amostragem deve ser feita na profundidade de 20-40 cm ou 30-60 cm e não na de 0-20 cm como é feita normalmente. Lembre-se que para aplicar gesso, os resultados da análise devem ser de amostras retiradas das camadas mais profundas. Quando coletar amostras das camadas de 0-20, 20-40, 30-60 cm é preciso cuidar para não misturá-las. As amostras devem ser independentes de cada camada. Para isto, é bom ter o cuidado de não misturá-las e proceder à identificação de cada camada. Em geral, a profundidade mais usada é a camada de 20-40 cm.

Como calcular a quantidade de gesso agrícola
Existem várias fórmulas apresentadas pelos pesquisadores para calcular a necessidade de gesso. Vamos apresentá-las a seguir.

1) Necessidade de gessagem e quantidade de gesso:
MARTINS, André G. professor da UFV-MG estabelece a seguinte fórmula:
NG (kg/ha) = 0,30 x Necessidade de calcário recomendada para o solo.
IMPORTANTE: a necessidade de calcário é aquela recomendada para a camada de 20-40 cm onde vai ser aplicado o gesso. Esta fórmula tem apenas a importância de calcular a necessidade de gessagem (NG) e não a quantidade de gesso a ser aplicada no solo. Esta última vai ser definida pela fórmula abaixo:
QG (t/ha) = NG x (SC/100) x (PF/20), onde,
QG = quantidade de gesso em t/ha.
NG = necessidade de gessagem em t/ha calculada na fórmula anterior.
SC = superfície coberta pelo gesso (%). Para área total, utiliza-se SC=100% e para aplicação no café em faixas, SC=75%.
PF = espessura da camada onde o gesso deverá agir, em cm. Para camada de 20-40, PF = 20 cm. Para camada de 30-60 cm, PF=30 cm.
O gesso deve ser aplicado após o calcário. O calcário na camada de 0-20 cm e o gesso na camada de 20-40 cm ou 30-60 cm. O gesso pode ser aplicado em cobertura, pois é muito móvel. Se a camada de 0-20 cm não exige calcário, pode-se aplicar o gesso em cobertura. Não há necessidade de incorporação do gesso. Uma corrente de pesquisadores recomenda aplicar calcário e gesso juntos. Outra corrente não aconselha.

2) Outra fórmula usada no café, leva em consideração o teor de argila das camadas inferiores do solo.
NG (kg/ha) = 75 x argila (%)
, segundo Souza et al (1997). O gesso deve apresentar, no mínimo, 15% de enxofre (S).3)
Outras fórmulas utilizadas são:
Para culturas anuais – DG (kg/ha) = 50 x teor de argila (%) ou DG (kg/ha) = 5,0 x argila (g/kg)
Para culturas perenes – DG (kg/ha) = 75 x argila (%) ou DG (kg/ha) = 7,5 x argila (g/kg)

3)
 Vitti e Mazza (1998) apresentam a seguinte tabela paraquantidade aproximada de gesso levando em consideração os valores T e V do solo.

Quando aplicar
O bom é no período chuvoso, pois facilita que o gesso se dissolva e atinja as camadas abaixo dos primeiros 20 cm. É nestas camadas profundas que irá propiciar o maior desenvolvimento radicular, como no cafeeiro, e reduzir a toxidez do alumínio. Quando há necessidade de se aplicar o gesso a lanço ou incorporação de maneira imediata, pode-se lançar mão da irrigação.
No café, o gesso proporciona um aumento de produção de sacas de café beneficiado que compensa o custo de aquisição e de aplicação. São necessárias de 3 a 4 t/ha. O efeito residual do gesso é grande e na dosagem de 4 t/ha atinge até 10 anos. Mas o importante é observar que o gesso deve ser aplicado conforme o recomendado pela análise do solo. Alguns cafeicultores insistem em aplicar o gesso agrícola em altas dosagens sem fazer a análise do solo. Aqueles que aplicam o gesso sem levar em conta a recomendação podem obter aumentos de produções até um certo ponto. À medida que se aumenta a dosagem, os rendimentos vão aumentando, mas não de maneira proporcional, até um momento que eles não compensam os gastos com aquisição e aplicação do produto. Os rendimentos podem até diminuir. Isto é ocasionado pelo desequilíbrio de cátions no solo. Doses elevadas de gesso ocasionam perdas de potássio (K) e magnésio (Mg) por lixiviação.
Outras aplicações do gesso agrícola
O gesso agrícola pode ser usado em solos sódicos, pois o cálcio substitui o sódio (Na) no complexo de troca formando o sulfato de sódio que é lixiviado. O cálcio é mais fortemente retido pelo solo do que o sódio.
O gesso pode ser usado, também, no processo de compostagem para reduzir as perdas de nitrogênio (N).
Um solo arenoso, com baixa CTC e pequena capacidade de adsorver sulfato, a movimentação de bases seria maior que aquela para um solo argiloso com alta CTC e alta adsorção de sulfato. É neste tipo de solo, onde o potencial de movimentação de bases é elevado, que o produtor deve ter o cuidado com a quantidade de gesso aplicado para evitar uma movimentação além das camadas exploradas pelo sistema radicular. Uma amostragem de solo deve ser feita periodicamente para acompanhar a movimentação de bases para evitar uma drástica movimentação para camadas mais profundas longe da área das raízes.
O gesso é uma fonte de enxofre (S). O uso de fertilizantes concentrados é uma das causas para o aparecimento de deficiências de S. Na produção de fertilizantes concentrados, com altos teores de N, P e K, utilizam-se, basicamente, matérias-primas que possuem pouco ou nenhum S. Outra causa é o baixo consumo de fertilizantes simples, como os sulfatos de amônio e de potássio, os quais contêm alto teor de enxofre.
O aumento da produtividade das culturas extrai nutrientes do solo e que não são repostos na sua totalidade ou pelos cultivos sucessivos sem reposição do que foi exportado.
O manejo inadequado do solo ocasiona uma diminuição no teor de matéria orgânica. Os solos com bom teor de matéria orgânica apresentam bons índices de enxofre.
As leguminosas têm uma exigência de 40 kg/ha de S, enquanto as gramíneas pedem 15-30 kg/ha de S. As espécies das famílias das crucíferas são as mais exigentes chegando a 80 kg/ha de S.
Para corrigir as deficiências de S, são recomendados de 100 a 250 kg/ha de gesso agrícola.

Fonte: Gastão Ney Monte

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