sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Gesso agrícola e rendimento de grãos de soja na região do sudoeste de Goiás

O revolvimento de áreas em plantio direto (PD) há vários anos e o uso de gesso agrícola são práticas observadas entre os produtores na região do sudoeste de Goiás. Este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar o efeito da aplicação de doses de gesso agrícola (0, 1, 2, 4 e 6 Mg ha-1) em alguns atributos químicos em profundidade no solo e no rendimento de grãos de soja em plantio direto com revolvimento (PDR) e sem revolvimento (PDS). O delineamento foi em blocos completos ao acaso, em esquema de parcelas subsubdivididas, com quatro repetições. A área vinha sendo conduzida há vários anos em PD, em um Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico textura argilosa, no sudoeste goiano, com os teores de Ca2+, Mg2+, K+, sulfato e CTC efetiva sendo determinados nas camadas de 0–5, 5–10, 10–20 e 20–40 cm. Observou-se que no PDS a maior concentração dos cátions e do sulfato ocorreu na camada de 0–5 cm, enquanto no PDR o sulfato se concentrou na de 20–40 cm. O maior rendimento de grãos de soja ocorreu no PDS, porém não houve influência das doses de gesso.

Veja o artigo na integra clicando aqui.

Autores: Lucimeire Neis, Helder Barbosa Paulino, Edicarlos Damacena de Souza, Edésio Fialho dos Reis & Flávio Araújo Pinto

Revista Brasileira de Ciência do Solo

sábado, 2 de julho de 2011

Gessagem estimula enraizamento das plantas



A gessagem estimula o enraizamento das plantas devido à presença de cálcio (Ca) solúvel no gesso. As raízes das plantas são estimuladas a crescer, principalmente em profundidade no solo que contém baixo teor de Ca. Além disso, o sulfato (SO4=) também presente no gesso forma um complexo com alumínio (Al) tóxico do solo, reduzindo a toxidez, o que também estimula o crescimento das raízes das plantas.



Aplicação de gesso x enraizamento



Em solos onde o teor de Ca é baixo em profundidade, bem como a toxidez de alumínio é alta, o que é comum nos solos da região do Cerrado, é imprescindível a aplicação de gesso para promover o bom enraizamento das plantas, principalmente em profundidade.

Caso não se utilize o gesso, o desenvolvimento das plantas é menor, bem como a eficiência dos fertilizantes aplicados ao solo também é baixa, reduzindo o retorno econômico dos produtores.

Para Djalma Martinhão Gomes de Sousa, pesquisador da Embrapa Cerrados, as produtividades das culturas são menores quando não se utiliza o gesso devido ao pequeno acesso à água e nutrientes do solo, pois as raízes das plantas ficam mais na superfície do solo, limitadas à exploração de pequeno volume do mesmo.

Na foto acima as duas plantas de algodão da esquerda apresentam a raiz principal torta, devido ao baixo teor de Ca e alta toxidez de alumínio do solo em profundidade. Comadição de gesso, que ocorreu para as duas plantas da direita, a raiz principal cresceu em profundidade, pois o gesso forneceu Ca e reduziu a toxidez do alumínio em camadas mais profundas de solo.

A dose de gesso recomendada para esse solo foi de 3 t/ha. Observa-se também o maior desenvolvimento das plantas de algodão (as duas à direita na foto) onde o gesso foi aplicado. O rendimento do algodão em caroço da área sem gesso foi de 3,0 t/ha, enquanto que na área com gesso foram produzidas 5,9 t/ha, ou seja, um acréscimo no rendimento de 96,7%.



Culturas beneficiadas



Em trabalhos de pesquisa foram obtidas boas respostas para as seguintes culturas: soja, milho, trigo, feijão, amendoim, algodão, cana-de-açúcar, café, eucalipto, manga, laranja, abacaxi, leguminosas e gramíneas forrageiras, dentre outras.

O primeiro passo recomendado por Djalma Martinhão é avaliar se o solo tem teor de Ca baixo e toxidez de alumínio alta. "Para isso é necessário retirar uma amostra de solo representativa da área tanto da camada superficial (0 a 20 cm) como da camada profunda (20 a 40 cm e 40 a 60 cm). Enviar a amostra de solo para o laboratório de análise química e física, e solicitar que sejam feitas as determinações de rotina (pH em água e CaCl2, alumínio trocável, cálcio trocável, magnésio trocável, potássio trocável, fósforo, dentre outras determinações), como também o teor de argila", destaca.

De posse dos resultados é importante verificar os dados das camadas de 20 a 40 cm e de 40 a 60 cm se o teor de Ca é menor que 0,5 cmolc/dm³, e a saturação de alumínio maior que 20% em alguma delas. Caso isso ocorra, o gesso deve ser aplicado ao solo.

Para calcular a dose de gesso, expõe o pesquisador, necessitamos do teor de argila do solo e saber se a área será cultivada com culturas anuais ou perenes. O cálculo é feito utilizando uma das fórmulas abaixo:

Culturas anuais: D.G. (kg/ha) = 50 x argila (%)

Culturas perenes: D.G. (kg/ha) = 75 x argila (%)

D.G. = dose de gesso agrícola com 15% de enxofre.



Resultados de campo



Para culturas como soja, feijão e amendoim ocorrem aumentos na produtividade em torno de 30%. Culturas como algodão, milho e trigo os aumentos em produtividade podem chegar a 100%. Em cana-de-açúcar os ganhos em produtividade para cana planta são em média de 20% e em cana soca entre 30% a 40%. Para a cultura do café são obtidos ganhos de até 50%.

"O erro mais comum é não proceder à análise do solo para verificar se é necessário utilizar o gesso na área. O outro problema é não utilizar as fórmulas para o cálculo da dose correta de gesso. Tem ocorrido em algumas lavouras o uso de doses de gesso bem acima do recomendado, o que pode gerar problemas ambientais, como também reduz o retorno econômico do produtor", destaca Djalma Martinhão.

Segundo o pesquisador, para ter sucesso com o uso dessa tecnologia o ideal é contar com o acompanhamento de um engenheiro agrônomo ou empresas de assistência técnica. "É imprescindível que se faça a análise do solo para avaliar se é necessária a utilização do gesso", enfatiza o pesquisador.

Fonte: Campo e Negócios

domingo, 19 de junho de 2011

Neutralização da Acidez Subsuperficial

Os solos do Brasil, além de serem ácidos, apresentam problemas de acidez subsuperficial, pois a incorporação do calcário nem sempre é possível fazê-la profundamente. Sendo assim, as camadas profundas, além dos 35 cm, podem apresentar níveis tóxicos de alumínio. As raízes, nestas condições, encontram dificuldades para absorverem os nutrientes do solo e para buscarem água. As plantas sofrem com os veranicos e limitação de produtividade. A aplicação de gesso agrícola contribui para diminuir a saturação de alumínio nas camadas mais profundas. O sistema radicular consegue, então, se aprofundar no solo e ao alcance dos nutrientes e água. Entretanto, não podemos confundir o gesso
como corretivo de acidez. Ele não neutraliza a acidez do solo. O gesso agrícola deve ser utilizado quando a análise do solo na camada de 30-50 cm apontar uma saturação por alumínio (m%) maior que 20% ou quando a saturação de cálcio for menor que 60%, ou ambas.  Para calcular a saturação por alumínio (m%) e a saturação de cálcio, clique nos links abaixo:
Cálculo das saturações de Ca, Mg e K
A dose de gesso, em kg/ha, varia de acordo com a textura do solo: arenosa, 700; textura média, 1.200; argilosa, 2.200; muito argilosa, 3.200. O efeito residual é por cinco anos.A calagem visa o aumento do pH do solo, aumento de Ca e Mg, neutralização do Al tóxico e aumento da CTC efetiva. O efeito do calcário se limita à profundidade que foi incorporado: se aplicado superficialmente, as camadas subsuperficiais apresentam condições adversas ao desenvolvimento do sistema radicular. Para atingir as camadas mais profundas seria necessário:
1. incorporação motomecanizada do calcário que é possível somente nos sistemas convencionais de cultivo. É impraticável nos sistemas de plantio direto e culturas perenes estabelecidas;
2. mobilização químico-orgânica, que consiste na utilização do gesso agrícola aliado à calagem superficial. Há um aumento do Ca e uma diminuição do Al tóxico, em profundidade. Um problema é que o gesso pode causar lixiviação de cátions básicos, não aumentar o pH do solo, não disponibilizando cargas negativas de troca nos coloides do solo.
Oliveira & Pavan (1966) observaram em sistema de plantio direto e em pomar de macieiras estabelecidas, manejado com restos vegetais de aveia preta e plantas invasoras, em que a calagem superficial reduziu o teor de Al, aumentou o pH do solo e o teor de Ca até 40 cm de profundidade. Os resíduos vegetais liberariam compostos orgânicos antes da decomposição pelos microorganismos do solo. Os compostos orgânicos mobilizariam o Ca, aumentariam o pH do solo e neutralizariam o Al em profundidade. Como as plantas invasoras têm a propriedade de produzir grande quantidade de biomassa e alto potencial de liberação de compostos orgânicos, é de grande interesse utilizá-las para melhorar a eficiência da calagem na neutralização da acidez do solo. As plantas invasoras seriam um potencial para a mobilização do Ca pelos compostos orgânicos, possibilitando que os efeitos da calagem superficial se estenda às camadas subsuperficiais.
Os solos do Cerrado apresentam acidez subsuperficial porque a incorporação do calcário nas camadas profundas nem sempre é possível. Mesmo que a calagem tenha sido bem feita, seguindo as recomendações técnicas, ela não atinge as camadas profundas (abaixo de 35 cm) que continuam com a presença de alumínio tóxico. A baixa capacidade de retenção de água destes solos corrobora para aumentar o problema, traduzindo-se em quedas de produtividade. Uma solução seria usar maior quantidade de calcário por um tempo maior. Outra seria a utilização de gesso para diminuir a saturação de alumínio nas camadas profundas, pois o sulfato do gesso ajudaria no arraste  do Ca do calcário para estas camadas. O sistema radicular das plantas apresentaria um melhor desenvolvimento nestas camadas profundas buscando água e nutrientes. A planta suportaria melhor os veranicos. Na imagem abaixo, podemos notar que aonde não foi aplicado gesso, o desenvolvimento do sistema radicular concentrou-se (60%) na camada de 0-15 cm. Onde foi aplicado gesso, verifica-se uma melhor concentração do sistema de raízes nas camadas mais profundas do que na lavoura sem gesso.

Fonte: Blog Na Sala com Gismonti

Recomendação de Gesso Agrícola para a cultura do café

A maioria dos solos utilizados para o plantio do café, no Brasil, apresenta baixos teores de cálcio trocável e elevados teores de alumínio, especialmente em camadas mais profundas. Dessa forma, as raízes do cafeeiro tendem a ficar concentradas na superfície do solo, o que torna as plantas extremamente suscetíveis a veranicos, além de reduzir a absorção de nutrientes que estão distribuídos em um maior volume de solo. Mas por que as raízes se concentram na superfície?
O efeito do calcário, em geral, não é observado em camadas mais profundas do solo, uma vez que o ânion, acompanhante carbonato (CO32-), imprime reduzida mobilidade ao cálcio no perfil do solo. É por isso que, ao se recomendar a calagem em cobertura, deve-se fazer a correção para 7 cm de profundidade, para que não ocorra uma supercalagem. Assim, grande parte do cálcio fica restrita às camadas superficiais do solo.
O cálcio, por sua vez, é um elemento eficaz para o crescimento vegetal, apresentando mobilidade intermediária no solo e pouquíssima, ou nenhuma, mobilidade nas plantas. Dessa forma, o cálcio enviado das raízes para as folhas do café não é retranslocado para as raízes, como acontece com o fósforo. Pode-se, então, fazer uma afirmativa de fácil entendimento: "as raízes do cafeeiro crescem em busca de cálcio, e, onde não houver cálcio, praticamente, não haverá raízes de café".
Além disso, o alumínio (Al3+) presente em camadas inferiores, não corrigidas pelo calcário, é tóxico para as plantas em concentrações elevadas. Portanto, haverá pouco crescimento radicular nessas camadas, devido aos baixos teores de cálcio e à possível toxidez de alumínio.
Para contornar esse problema, que, muitas vezes, não fica explícito, mas que reduz a produção das lavouras, deve-se utilizar o gesso. O gesso agrícola é composto, basicamente, por sulfato de cálcio (CaSO4.2H2O), contendo, aproximadamente, 32,6% de CaO e 18,7% de S, sendo fonte, além de cálcio, de enxofre. É um sal neutro e dissocia-se, quando em solução, em Ca2+ e SO4-2. Logo, não apresenta receptores de prótons (OH- e HCO3-), ou seja, não é capaz, a princípio, de neutralizar a acidez do solo, muito menos de elevar a CTC. Dessa forma, é considerado como um condicionador do solo, não um corretivo.
O ânion, acompanhante sulfato (SO42-), imprime elevada mobilidade ao cálcio, permitindo que este nutriente chegue a camadas mais profundas do solo. Além disso, o sulfato, oriundo do gesso, se liga ao alumínio do solo, formando o sulfato de alumínio (AlSO4+), que é uma forma menos tóxica para as plantas. O gesso promove, também, outras formas de redução da toxidez de alumínio, como a "auto-calagem" ou a formação de AlF2+, mas essas ocorrem com menor intensidade do que a formação de AlSO4+.
Por fornecer enxofre e cálcio, dar mobilidade ao cálcio até camadas mais profundas do solo e reduzir a toxidez de alumínio em sub-superfície, o gesso é um insumo fundamental para a cultura do café, pois favorece o crescimento e o desenvolvimento radicular. Com isso, as plantas ficam menos sensíveis a períodos de veranico e são capazes de absorver nutrientes presentes em um maior volume de solo.
Aplicação de gesso
O gesso é um importante insumo para a cafeicultura, mas tem seu emprego limitado a situações particulares bem definidas. O uso indiscriminado de gesso nas lavouras pode causar problemas em vez de benefícios e prejuízos em vez de lucros.
           

















A utilização do gesso é prescrita para as três situações de sub-solo listadas a seguir. Se apenas uma delas for satisfeita, deve-se aplicar o gesso.

- Teor de cálcio menor ou igual a 0,4 cmolc/dm3.
- Teor de alumínio maior que 0,5 cmolc/dm3.
- Saturação por alumínio (m) maior que 30%.

Essas são situações a serem determinadas no sub-solo, por meio de análises químicas. Portanto, a amostragem de solo, para esse caso, deve ser realizada na camada de 20 a 40 cm de profundidade, ou mais profundas, não na de 0 a 20 cm. Para verificar a necessidade de aplicação de gesso, os resultados analíticos da camada de 0 a 20 cm não querem dizer muita coisa. Essa decisão só pode ser tomada com base nos resultados analíticos da camada de 20 a 40 cm.
Concluindo-se pela aplicação do gesso, segundo as três regras citadas, o cálculo da quantidade a ser utilizada é muito simples e se fundamenta no cálculo para a necessidade de calagem. Divide-se em necessidade de gessagem (NG) e quantidade de gesso a ser aplicada (QG).

NG = 0,30 x NC, onde:
NG = Necessidade de gesso, em t/ha.
NC = Necessidade de calcário, em t/ha (calculada para a camada que se deseja corrigir com gesso, não para a camada de 0 a- 20 cm. Essa NC é utilizada apenas para o cálculo da NG, não sendo aplicada ao solo).
QG = NG x (SC/100) x (PF/20), onde:
QG = Quantidade de gesso a ser aplicada para corrigir determinada camada de solo, em t/ha.
NG = Necessidade de gesso, em t/ha.
SC = Superfície coberta pelo gesso, em%. (para área total utiliza-se SC = 100%; para aplicação em faixas utiliza-se SC = 75%).
PF = Espessura da camada onde o gesso deverá agir, em cm. (para a camada de 20 a 40 cm utiliza-se PF = 20 cm; já para a camada de 30 a 60 cm utiliza-se PF = 30 cm).

O gesso pode ser aplicado junto com o calcário, mas é preferível que seja usado após a aplicação deste. Aplica-se a quantidade de calcário calculada para a camada de 0 a 20 cm e a quantidade de gesso calculada para a camada sub-superficial. O gesso pode ser aplicado em cobertura, sem necessidade de incorporação, pois é muito móvel no solo. Se não houver necessidade de calagem para a camada superficial, pode-se aplicar apenas o gesso, mas esta condição deve ser revista anualmente.

A aplicação de gesso, mal calculada e sem o prévio conhecimento sobre se há necessidade de calagem para a camada superficial, é prejudicial ao equilíbrio químico do solo e à nutrição balanceada do cafeeiro. No entanto, quando bem prescrita e calculada, a aplicação de gesso é fundamental para que seja alcançada elevada produtividade na cafeicultura.

André Guarçoni Martins,
Doutor em Solos e Nutrição de Plantas na Universidade Federal de Viçosa-MG e pesquisador em Manejo de Culturas no INCAPER.

Quando o corretivo não é bem utilizado

Por Wignez Henrique1

Já dizia o antigo ditado que "cavalo dado não se olha os dentes", mas na verdade há de se tomar cuidado com o presente, uma vez que a manutenção do cavalo pode custar muito caro.

O fato ocorreu foi em uma propriedade em Tanabi, noroeste do Estado de São Paulo, que apresentava solo de baixa qualidade, desgastado, com pasto degradado. Há cerca de 10 anos atrás, foi feita a implantação de novas pastagens com Panicum maximum eBrachiaria decumbens cv. Marandu. Nessa implantação e no decorrer dos anos seguintes foram feitas correções do solo e adubações relativamente altas de nitrogênio, fósforo e potássio. As pastagens foram utilizadas para cria e engorda de bovinos de corte. O solo chegou a 70% de saturação de bases e permaneceu nesse patamar por alguns anos, essa e as outras características do solo em maio de 2003 podem ser vistas no quadro abaixo.

Nos meados do ano passado, algumas empresas ofereceram gratuitamente o gesso (sulfato de cálcio), e recomendaram a adição desse corretivo nas pastagens da região. O único gasto seria com o frete do carregamento do gesso até a propriedade. A recomendação era que fosse utilizado o gesso como fonte de enxofre, uma vez que contém cerca de 15% desse elemento. Assim, o dono dessa propriedade distribui cerca de 450 kg de gesso/ha, em meados de 2003.

Também no quadro abaixo é mostrada a análise do mesmo solo realizada em maio de 2004. Vale lembrar que ambas as análises foram realizadas em amostras retiradas na camada de 0 a 20 cm de profundidade do solo, e que ambas foram realizadas no mesmo laboratório.

Quadro 1 - Análises de solo de uma mesma área no município de Tanabi, SP, realizadas em anos subseqüentes pelo mesmo laboratório


Ocorreu uma verdadeira "lixiviação" de alguns nutrientes e a adsorção de outros, tornando-os indisponíveis para as plantas. Ou seja, o solo que tinha excelentes características, principalmente ao considerarmos a região e sendo área de pasto, tornou-se um solo de média a baixa fertilidade, e o pior, em prazo muito curto.

É ainda necessário tomar-se as devidas precauções na recomendação da aplicação do gesso, precauções essas já publicadas há muitos anos atrás e que englobam medidas anteriores à recomendação da aplicação do gesso agrícola:

- fazer amostragens e análises do solo tanto da camada de 0-20 cm, como nas camadas subsuperficiais, 20-40 e 40-60 cm, prestando-se atenção nos possíveis desbalanços de magnésio e potássio;

- observar se existem sintomas visuais de deficiência nas plantas forrageiras (em gramíneas, o sintoma principal é o amarelecimento das folhas mais novas, precedendo o amarelecimento das folhas mais velhas);

- e também realizar análises foliares.

A forma ainda mais "segura" de se corrigir a deficiência de enxofre nas pastagens é distribuindo adubos nitrogenados e fosfatados que contenham esse elemento. Além disso, parte do enxofre é reposta naturalmente por gases da atmosfera.

O uso do gesso agrícola, como corretivo, não dispensa o uso do calcário, talvez até exija essa associação. Além disso, doses máximas recomendadas são de 300 kg/ha, segundo a literatura.

Como fonte de enxofre, deve-se recomendar com cautela esse corretivo, talvez até utilizando-se doses menores e distribuídas no decorrer de alguns anos, e principalmente, após a serem detectadas deficiências desse nutriente nas plantas. 

domingo, 1 de maio de 2011

Como usar gesso para corrigir a deficiência de cálcio nos solos do Cerrado

Orientações para adoção adequada da técnica que favorece o aprofundamento das raízes das plantas


É cada vez maior a adesão dos agricultores ao uso do gesso agrícola (sulfato de cálcio) em suas propriedades. Na região do Cerrado, que apresenta cerca de 80% de sua área com algum problema de acidez, como excesso de alumínio associado a baixos teores de cálcio, a utilização do gesso é responsável pela melhora significativa do ambiente radicular em profundidade para as plantas. Durante o Prosa Rural, o pesquisador da Embrapa Cerrados (Planaltina/ DF), Djalma Martinhão, traz orientações para a adoção dessa prática.


Ao contrário do que muitos acreditam, em solos ácidos, a deficiência de cálcio não ocorre apenas na camada superficial. O problema é constatado também abaixo dos primeiros 20 centímetros do solo e, nesses casos, a calagem não corrige de forma satisfatória a acidez e a deficiência de cálcio. A aplicação do gesso supre o solo com cálcio e reduz a toxidez do alumínio até as camadas mais profundas. Dessa forma, ela favorece o aprofundamento das raízes e permite que as plantas superem o veranico e utilizem com mais eficiência a água e os nutrientes do solo. A profundidade do solo que a gessagem é capaz de corrigir depende da cultura. Para as anuais, a recomendação é que a gessagem atinja a profundidade de 60 centímetros e para as culturas perenes, 80 centímetros.


O pesquisador Djalma Martinhão, alerta, no entanto, para um erro comum: utilizar o gesso sem saber primeiro se é mesmo necessário. “Para fazer essa avaliação é importante que o agricultor conte com o auxílio de um profissional capacitado para analisar o solo e, assim, verificar se a área apresenta deficiência de cálcio e excesso de alumínio em profundidade”, recomenda.


A amostragem do solo para as análises químicas deverá ser feita na profundidade de 40 a 60cm para culturas anuais e, no caso das culturas perenes, deve-se recolher amostras de duas profundidades distintas: da camada de 20 a 40cm e também de 60 a 80 cm. Nesses casos, é recomendado que o teor de argila seja determinado. A saturação de alumínio e o teor de cálcio apresentados pelo resultado da análise é que vão indicar se a aplicação do gesso deve ou não ser adotada.


A tecnologia do uso do gesso na região do Cerrado foi lançada em 1995 e a Embrapa Cerrados foi quem primeiro recomendou seu uso. Nessa época, eram vendidas cerca de 200 mil toneladas de gesso por ano. “Hoje, já atingimos três milhões de toneladas por ano”, informa Martinhão. O sucesso dessa tecnologia, segundo o pesquisador, se deve ao fato de o produto reduzir as perdas em produtividade das plantas quando ocorrem os veranicos e ao aumento da eficiência de uso dos fertilizantes adicionados ao solo.


A gessagem é uma tecnologia relativamente barata - uma tonelada de gesso está em torno de R$ 30,00. Dependendo do local da propriedade, o maior custo é o do frete, pois para suprir a região do Cerrado encontra-se gesso em Uberaba (MG) e Catalão (GO). Também é possível comprar o gesso nos estados da região nordeste do país.


Segundo o pesquisador, para cultura do café a relação custo-benefício desse subproduto é muito alta; ficando em torno de R$ 25,00 de ganho em cada real investido no uso do gesso em um período de oito anos. Para culturas como soja e milho, o retorno da aplicação em gesso é de 15 a 25 para um, ou seja, para cada real aplicado o retorno é de R$ 15,00 a R$ 25,00.


Saiba mais sobre este assunto ouvindo o Prosa Rural, o programa de rádio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que conta com o apoio do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.


Responsável: Juliana Caldas (4861/14//90/DF)
Email: juliana.caldas@cpac.embrapa.br
Unidade: Embrapa Cerrados

Fonte: Embrapa Informação Tecnológica

sábado, 19 de março de 2011

RELAÇÕES ENTRE TEORES FOLIARES DE NUTRIENTES E PRODUÇÃO DO CAFEEIRO (Coffea arabica L.) SUBMETIDO A DOSES DE CALCÁRIO E GESSO 1

RESUMO - Objetivou-se neste trabalho, conduzido por 11 anos, estabelecer correlações entre teores foliares dos nutrientes com a produção do cafeeiro ‘Catuaí CH 2057-2-5-44’, submetido a doses de calcário e gesso.
Utilizou-se um delineamento em blocos casualizados com três repetições em esquema fatorial 4x3, sendo quatro doses de calcário dolomítico (0, 750, 1500 e 3000kg/ha) e três doses de gesso agrícola (0, 1290 e 2580kg/ha). Cinco anos depois da implantação do experimento, reaplicou-se metade das doses iniciais. O experimento foi conduzido de 1978 a 1989, avaliandose anualmente em dezembro/janeiro os teores foliares de nutrientes, e em julho, a produção. Os dados dos teores foliares dos nutrientes, bem como os das relações entre eles, foram correlacionados (correlação linear simples) com os dados de produção do mesmo ciclo produtivo. Os nutrientes cujos teores foliares se correlacionaram melhor com a produção, foram o Ca, o S e o P, os dois primeiros positivamente e o último negativamente. As relações entre os teores foliares dos nutrientes se correlacionaram melhor com a produção do que os seus teores isoladamente. A combinação da
maior dose de calcário com a dose intermediária de gesso foi a mais adequada.


Fonte: Agronelli

sexta-feira, 18 de março de 2011

Gesso agrícola e rendimento de grãos de soja na região do sudoeste de Goiás

O revolvimento de áreas em plantio direto (PD) há vários anos e o uso de gesso agrícola são práticas observadas entre os produtores na região do sudoeste de Goiás. Este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar o efeito da aplicação de doses de gesso agrícola (0, 1, 2, 4 e 6 Mg ha-1) em alguns atributos químicos em profundidade no solo e no rendimento de grãos de soja em plantio direto com revolvimento (PDR) e sem revolvimento (PDS). O delineamento foi em blocos completos ao acaso, em esquema de parcelas subsubdivididas, com quatro repetições. A área vinha sendo conduzida há vários anos em PD, em um Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico textura argilosa, no sudoeste goiano, com os teores de Ca2+, Mg2+, K+, sulfato e CTC efetiva sendo determinados nas camadas de 0–5, 5–10, 10–20 e 20–40 cm. Observou-se que no PDS a maior concentração dos cátions e do sulfato ocorreu na camada de 0–5 cm, enquanto no PDR o sulfato se concentrou na de 20–40 cm. O maior rendimento de grãos de soja ocorreu no PDS, porém não houve influência das doses de gesso.

Veja o artigo na integra clicando aqui.

Autores: Lucimeire Neis, Helder Barbosa Paulino, Edicarlos Damacena de Souza, Edésio Fialho dos Reis & Flávio Araújo Pinto


Fonte: Revista Brasileira de Ciência do Solo

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Necessidade de Gessagem

Os solos brasileiros, em geral, apresentam baixos teores de cálcio (Ca) e altos teores de alumínio (Al) trocável. Isto ocorre, com ênfase, nas camadas mais profundas. Desta maneira, o desenvolvimento radicular é superficial e aí concentrado. Disto ocorre que as plantas sofrem com os veranicos e a absorção de nutrientes 
é limitada à área de desenvolvimento das raízes. Comparando plantas que tiveram um aporte de gesso na camada de 20-40cm e 30-60cm elas tiveram um desenvolvimento de raízes em área e em profundidade. Nas profundidades subsuperficiais a concentração de raízes chegou a 29% e nas camadas mais profundas, ainda, a concentração de raízes foi de 19 a 12%. Já as plantas que não tiveram um aporte de gesso agrícola, a concentração de raízes foi maior na camada de até 20 cm. Nas camadas mais profundas de 40-60 cm, a concentração de raízes chegou a 1%.
Benjamin Franklin foi um líder fazendeiro e tentou aumentar a produção e qualidade das plantas. Tornou-se muito conhecido, nesta área, por ter aplicado sulfato de cálcio (gesso) em uma colina perto de Filadélfia. Ele escreveu as palavras: “Esta terra foi corrigida com gesso”.
O gesso é um subproduto das indústrias de fertilizantes. Para a obtenção do ácido fosfórico, as rochas fosfatadas são atacadas pelo ácido sulfúrico e desta reação são obtidos o sulfato de cálcio (gesso) e o ácido fluorídrico. Tratando-se a rocha fosfatada com uma quantidade maior de ácido sulfúrico, obtém-se ácido fosfórico e sulfato de cálcio (gesso) sólido em suspensão. O sulfato de cálcio é separado por filtração, originando uma grande quantidade de gesso como subproduto. Por tonelada de ácido fosfórico produzida, obtém-se quase 5 (cinco) toneladas de gesso.
Como o cálcio é pouco móvel no solo e quase nenhuma mobilidade na planta, o efeito da calagem não se observa nas camadas mais profundas. Mas o nutriente cálcio é importante para a planta. No café, as raízes vão atrás do cálcio e nos locais que ele não existe não haverá crescimento das mesmas. Por outro lado, o alumínio (Al³+), que é tóxico para as plantas quando em altas concentrações, está presente nas camadas mais profundas onde o calcário não consegue atingi-las. Desta maneira, altos teores de alumínio e baixos teores de cálcio nas camadas mais profundas não favorecem o desenvolvimento radicular e, assim, as raízes não conseguem buscar água e nutrientes.
O gesso agrícola, sulfato de cálcio, contém cálcio e enxofre (S). Contém 32% de CaO e até 19% de S. Ele se dissocia em Ca²+ e SO4²-. Mas o gesso não é um corretivo para neutralizar a acidez do solo. Tão pouco tem a capacidade de elevar a “Capacidade de Troca de Cátions – CTC”. Ele é um condicionador do solo.
Os benefícios do gesso agrícola são vários. Entre eles:
1) o ânion SO4²- imprime uma maior mobilidade ao cálcio levando-o para as camadas mais profundas;
2) por sua vez, o íon sulfato se liga ao alumínio formando um sal, o sulfato de alumínio (AlSO4) , que é menos tóxico para a planta;
3) fornece cálcio e enxofre para as plantas.

Quando aplicar o gesso agrícola
O gesso deve ser aplicado quando, no mínimo, uma destas condições seja satisfeita:
a) teor de cálcio (Ca) menor ou igual a 0,4 cmolc/dm³ ou 4 mmolc/dm³. Para transformar cmolc em mmolc basta multiplicar por 10;
b) teor de alumínio (Al) maior que 0,5 cmolc/dm³ ou 5 mmolc/dm³;
c) saturação por alumínio (m%) maior que 30%. Alguns citam 20%.
O produtor agrícola pensando em aplicar gesso deve providenciar na análise do solo. Neste caso, a amostragem deve ser feita na profundidade de 20-40 cm ou 30-60 cm e não na de 0-20 cm como é feita normalmente. Lembre-se que para aplicar gesso, os resultados da análise devem ser de amostras retiradas das camadas mais profundas. Quando coletar amostras das camadas de 0-20, 20-40, 30-60 cm é preciso cuidar para não misturá-las. As amostras devem ser independentes de cada camada. Para isto, é bom ter o cuidado de não misturá-las e proceder à identificação de cada camada. Em geral, a profundidade mais usada é a camada de 20-40 cm.

Como calcular a quantidade de gesso agrícola
Existem várias fórmulas apresentadas pelos pesquisadores para calcular a necessidade de gesso. Vamos apresentá-las a seguir.

1) Necessidade de gessagem e quantidade de gesso:
MARTINS, André G. professor da UFV-MG estabelece a seguinte fórmula:
NG (kg/ha) = 0,30 x Necessidade de calcário recomendada para o solo.
IMPORTANTE: a necessidade de calcário é aquela recomendada para a camada de 20-40 cm onde vai ser aplicado o gesso. Esta fórmula tem apenas a importância de calcular a necessidade de gessagem (NG) e não a quantidade de gesso a ser aplicada no solo. Esta última vai ser definida pela fórmula abaixo:
QG (t/ha) = NG x (SC/100) x (PF/20), onde,
QG = quantidade de gesso em t/ha.
NG = necessidade de gessagem em t/ha calculada na fórmula anterior.
SC = superfície coberta pelo gesso (%). Para área total, utiliza-se SC=100% e para aplicação no café em faixas, SC=75%.
PF = espessura da camada onde o gesso deverá agir, em cm. Para camada de 20-40, PF = 20 cm. Para camada de 30-60 cm, PF=30 cm.
O gesso deve ser aplicado após o calcário. O calcário na camada de 0-20 cm e o gesso na camada de 20-40 cm ou 30-60 cm. O gesso pode ser aplicado em cobertura, pois é muito móvel. Se a camada de 0-20 cm não exige calcário, pode-se aplicar o gesso em cobertura. Não há necessidade de incorporação do gesso. Uma corrente de pesquisadores recomenda aplicar calcário e gesso juntos. Outra corrente não aconselha.

2) Outra fórmula usada no café, leva em consideração o teor de argila das camadas inferiores do solo.
NG (kg/ha) = 75 x argila (%)
, segundo Souza et al (1997). O gesso deve apresentar, no mínimo, 15% de enxofre (S).3)
Outras fórmulas utilizadas são:
Para culturas anuais – DG (kg/ha) = 50 x teor de argila (%) ou DG (kg/ha) = 5,0 x argila (g/kg)
Para culturas perenes – DG (kg/ha) = 75 x argila (%) ou DG (kg/ha) = 7,5 x argila (g/kg)

3)
 Vitti e Mazza (1998) apresentam a seguinte tabela paraquantidade aproximada de gesso levando em consideração os valores T e V do solo.

Quando aplicar
O bom é no período chuvoso, pois facilita que o gesso se dissolva e atinja as camadas abaixo dos primeiros 20 cm. É nestas camadas profundas que irá propiciar o maior desenvolvimento radicular, como no cafeeiro, e reduzir a toxidez do alumínio. Quando há necessidade de se aplicar o gesso a lanço ou incorporação de maneira imediata, pode-se lançar mão da irrigação.
No café, o gesso proporciona um aumento de produção de sacas de café beneficiado que compensa o custo de aquisição e de aplicação. São necessárias de 3 a 4 t/ha. O efeito residual do gesso é grande e na dosagem de 4 t/ha atinge até 10 anos. Mas o importante é observar que o gesso deve ser aplicado conforme o recomendado pela análise do solo. Alguns cafeicultores insistem em aplicar o gesso agrícola em altas dosagens sem fazer a análise do solo. Aqueles que aplicam o gesso sem levar em conta a recomendação podem obter aumentos de produções até um certo ponto. À medida que se aumenta a dosagem, os rendimentos vão aumentando, mas não de maneira proporcional, até um momento que eles não compensam os gastos com aquisição e aplicação do produto. Os rendimentos podem até diminuir. Isto é ocasionado pelo desequilíbrio de cátions no solo. Doses elevadas de gesso ocasionam perdas de potássio (K) e magnésio (Mg) por lixiviação.
Outras aplicações do gesso agrícola
O gesso agrícola pode ser usado em solos sódicos, pois o cálcio substitui o sódio (Na) no complexo de troca formando o sulfato de sódio que é lixiviado. O cálcio é mais fortemente retido pelo solo do que o sódio.
O gesso pode ser usado, também, no processo de compostagem para reduzir as perdas de nitrogênio (N).
Um solo arenoso, com baixa CTC e pequena capacidade de adsorver sulfato, a movimentação de bases seria maior que aquela para um solo argiloso com alta CTC e alta adsorção de sulfato. É neste tipo de solo, onde o potencial de movimentação de bases é elevado, que o produtor deve ter o cuidado com a quantidade de gesso aplicado para evitar uma movimentação além das camadas exploradas pelo sistema radicular. Uma amostragem de solo deve ser feita periodicamente para acompanhar a movimentação de bases para evitar uma drástica movimentação para camadas mais profundas longe da área das raízes.
O gesso é uma fonte de enxofre (S). O uso de fertilizantes concentrados é uma das causas para o aparecimento de deficiências de S. Na produção de fertilizantes concentrados, com altos teores de N, P e K, utilizam-se, basicamente, matérias-primas que possuem pouco ou nenhum S. Outra causa é o baixo consumo de fertilizantes simples, como os sulfatos de amônio e de potássio, os quais contêm alto teor de enxofre.
O aumento da produtividade das culturas extrai nutrientes do solo e que não são repostos na sua totalidade ou pelos cultivos sucessivos sem reposição do que foi exportado.
O manejo inadequado do solo ocasiona uma diminuição no teor de matéria orgânica. Os solos com bom teor de matéria orgânica apresentam bons índices de enxofre.
As leguminosas têm uma exigência de 40 kg/ha de S, enquanto as gramíneas pedem 15-30 kg/ha de S. As espécies das famílias das crucíferas são as mais exigentes chegando a 80 kg/ha de S.
Para corrigir as deficiências de S, são recomendados de 100 a 250 kg/ha de gesso agrícola.

Fonte: Gastão Ney Monte

Artigo: Fertilizantes & Corretivos

Os fertilizantes e corretivos agrícolas são os insumos mais importantes, em termos percentuais, para aumentar a produtividade das culturas.
Fertilizantes
Fertilizantes são definidos na legislação brasileira como “substâncias minerais ou orgânicas, naturais ou sintéticas, fornecedoras de um ou mais nutrientes das plantas”.
Os elementos químicos presentes nos fertilizantes, conforme a quantidade ou proporção são divididos em macronutrientes primários (nitrogênio, fósforo, potássio), macronutrientes secundários (cálcio, magnésio e enxofre) e micronutrientes (boro, cloro, cobre, ferro, manganês, molibdênio, zinco, sódio, silício e cobalto).
As melhores práticas de manejo agrícola (MPMs) são práticas ou sistemas de manejo viáveis destinadas a reduzir as perdas de solo e diminuir os efeitos ambientais adversos na qualidade da água, causados por nutrientes, resíduos animais e sedimentos. O setor de fertilizantes atualmente já participa das MPMs destinadas a melhorar o uso eficiente do nutriente e a proteção ambiental.com a aplicação do produto correto, dose certa, época e local adequados. Não existe um conjunto universal sendo específicas para cada local e cultura e variam de uma propriedade agrícola a outra, dependendo de fatores como solos, condições climáticas, culturas, histórico de cultivo e habilidade no manejo.
O uso eficiente de fertilizantes agrícolas deve responder as questões: O que aplicar? Quanto aplicar? Em que forma química? Como aplicar? Qual o retorno econômico? Textura, tipo de argila e CTC, são fatores, que somados às informações quanto ao teor de nutrientes nos solos e exigências da cultura, são de grande importância na tomada de decisão sobre as doses, modo e época de aplicação do fertilizante. A análise de solos é uma das principais ferramentas de diagnose para a determinação da aplicação do fertilizante ou corretivo. A análise foliar é outro instrumento para detectar problemas nutricionais nas plantas. O histórico da área a ser cultivada é outro fator de importância para maximizar a eficiência dos fertilizantes.
O uso eficiente dos fertilizantes deve considerar alguns fatores como presença de outros nutrientes na composição do fertilizante, doses a serem aplicadas, forma de aplicação, condições do solo (umidade, textura, tipo de argila, pH); condições de clima (índice pluviométrico e temperatura), condições da cultura (ciclo, variedade, capacidade de desenvolvimento de raízes). A maior parte do potássio absorvido pelas plantas, encontra-se nas folhas talos e ramos, diferente do nitrogênio e do fósforo, o manejo adequado dos restos culturais irá devolver grande parte deste nutriente no solo. O manejo adequado do solo também influi na eficiência dos fertilizantes, evitando perdas por erosão ou lixiviação.
A incorporação adequada dos fertilizantes nitrogenados, tanto por ocasião do plantio, como em cobertura, pode evitar perdas por volatilização de amônia, em solos alcalinos, calcários ou áreas que foram calcariadas em excesso. O parcelamento da adubação, de acordo com as necessidades da cultura e de acordo com as características do solo e clima é uma das práticas de manejo mais recomendadas para aumentar a eficiência dos fertilizantes nitrogenados.
As empresas responsáveis pela produção brasileira de matérias-primas, produção e comercialização de fertilizantes, podem ser agrupadas segundo o grau de verticalização do setor, sendo elas empresas integradas as que produzem desde matérias-primas a fertilizantes compostos, as que produzem matérias-primas para fertilizantes simples; empresas semi-integradas são as que produzem fertilizantes simples e compostos, e um grande numero, de empresas, são as misturadoras que produzem misturas NPK de fertilizantes simples, grande parte destas também comercializam.
Corretivos
Corretivos da acidez dos solos são produtos capazes de neutralizar (diminuir ou eliminar) a acidez dos solos e ainda repor nutrientes vegetais ao solo, principalmente cálcio e magnésio. Os corretivos de alcalinidade são produtos que promovem a redução da alcalinidade do solo e corretivos de sodicidade são os produtos que promovem a redução da saturação de sódio. Os produtos considerados corretivos da acidez dos solos são os que contêm como constituinte neutralizante carbonatos, óxidos, hidróxidos ou silicatos de cálcio e/ou de magnésio. Os corretivos de acidez são de natureza física sólida, na forma de pó.
Grande parte dos solos brasileiros são ácidos, com baixas concentrações de cálcio e magnésio, com níveis elevados de alumínio trocável e baixa disponibilidade de fósforo, prejudicando a absorção dos nutrientes pelas plantas e aumentando os custos da fertilização. A acidez de um solo é devida à presença de H+ livres, gerados por componentes ácidos presentes no solo (ácidos orgânicos, fertilizantes nitrogenados, etc.). A neutralização da acidez consiste em neutralizar os H+, o que é feito pelo ânion OH-. por isso, os corretivos de acidez devem ter componentes básicos para gerar OH-, promovendo a neutralização.
A incorporação de calcário no solo é chamada calagem. Além de corrigir a acidez do solo, fornece cálcio (CaO) e magnésio (MgO), neutraliza o efeito fitotóxico do alumínio e do manganês e potencializa o efeito dos fertilizantes. A calagem é considerada como uma das práticas que mais contribui para o aumento da eficiência dos adubos e conseqüentemente, da produtividade e da rentabilidade. O sucesso da prática da calagem depende fundamentalmente de três fatores que são a dosagem adequada, as características do corretivo utilizado e a aplicação correta. A análise do solo é a ferramenta básica para identificar a necessidade de calagem em uma área,
Das características dos corretivos de acidez dos solos relacionados com a qualidade, duas são consideradas as mais importantes: a granulometria e o teor de neutralizantes. Essas características determinam o Poder Relativo de Neutralização Total do corretivo (PRNT), que é resultado do teor de compostos químicos presentes no calcário que agem na neutralização da acidez (PN poder de neutralização) e do grau de finura na moagem (RE Reatividade). A legislação atual determina que os corretivos da acidez do solo devem possuir como características mínimas passar 100% em peneira de 2 mm (ABNT n° 10); 70% em peneira de 0,84 mm (ABNT n° 20) e 50% na peneira de 2mm (ABNT n° 10). O teor de umidade máximo admitido para corretivos de acidez é de 10%.
O calcário é o corretivo natural mais abundante e mais utilizado no Brasil, obtido pela moagem da rocha calcária. Seus constituintes são carbonato de cálcio CaCO3 e carbonato de magnésio MgCO3. Em função dos teores de Mg os calcários são classificados em calcítico (< 5% de MgO), magnesiano (5 a 12% de MgO) ou dolomítico (> 12% de MgO).
Cal virgem agrícola é obtida industrialmente pela calcinação ou queima completa do calcário. Seus constituintes são o óxido de cálcio (CaO) e o óxido de magnésio (MgO). Cal hidratada agrícola ou cal extinta é obtida industrialmente pela hidratação da cal virgem, seus constituintes são o hidróxido de cálcio Ca(OH)2 e o hidróxido de magnésio Mg(OH)2 .O calcário calcinado, é obtido industrialmente pela calcinação parcial do calcário. Seus constituintes são (CaCO3) e (MgCO3) não decompostos do calcário, (CaO) e (MgO) e também Ca(OH)2 e Mg(OH)2 resultantes da hidratação dos óxidos pela umidade do ar; é um produto de características e propriedades intermediárias entre o calcário e a cal virgem.
A escória básica de siderurgia é um subproduto da indústria do ferro e do aço. Seus constituintes são, o silicato de cálcio (CaSiO3) e o silicato de magnésio (MgSiO3). O Carbonato de cálcio é obtido pela moagem de margas (depósitos terrestres de carbonato de cálcio), corais e sambaquis (depósitos marinhos de carbonato de cálcio), tendo ação neutralizante semelhante à do carbonato de cálcio dos calcários. O gesso agrícola é também denominado fosfogesso. Nas indústrias de fertilizantes, durante o processo de fabricação de superfosfatos, simples e triplo, e fosfatos de amônio, MAP e DAP, usam como matéria-prima a rocha fosfática, geralmente a fluorapatita, esta, ao ser atacada com ácido sulfúrico, na presença de água, forma como subprodutos sulfato de cálcio, ácido fosfórico e ácido fluorídrico. Tem sido usado quando o solo apresenta baixos teores de cálcio e de enxofre e para diminuição de concentrações tóxicas do alumínio trocável nas camadas mais inferiores do solo.
A indústria de calcário coloca no mercado produtos com ampla variação na granulometria, teores de cálcio e magnésio e PRNT. A decisão da escolha deve ser tomada com base na análise do solo, na exigência da cultura e no preço. Os corretivos mais reativos são, em geral, de custo mais elevado, porque necessitam moagem mais intensa ou calcinação ou ambos. O efeito residual de um corretivo é o tempo de duração da calagem efetuada, e depende de vários fatores como dosagem usada, tipo de solo, adubações (os adubos nitrogenados acidificam o solo), intensidade de cultivo, e a reatividade do corretivo. Quanto maior a reatividade, menor o efeito residual, isto é, mais rápida a ação do corretivo.
Os corretivos apresentam baixa solubilidade, e sua ação está associada à umidade do solo e ao contato do corretivo com o solo, fatores diretamente ligados ao grau de moagem do corretivo, quanto mais moído, maior é o contato e mais rápida será sua ação, quanto mais misturado, maior é o contato e mais rápida a ação no solo. Para uma boa mistura do corretivo com o solo é necessário que ele seja distribuído uniformemente e bem incorporado.
O conceito de eficiência está ligado à lucratividade, isto é, o corretivo mais eficiente é aquele que proporciona maior lucro. Ocorrem situações que necessitam de corretivos com maior reatividade, como atraso na calagem, calagem em terrenos arrendados, hortas, solos muito ácidos, entretanto há situações que necessitam de efeito residual, como calagem para implantação de culturas perenes e pastagens. Na eficiência também deve ser considerada a natureza química do produto e a granulometria. Essas diferenças devem ser observadas na aplicação. Cal virgem, cal hidratada e calcário calcinado devem ser incorporados logo após a aplicação para não empedrarem, produtos de granulometria fina necessitam equipamentos adequados para aplicação, e podem apresentar perdas devido ao vento.
Deve ser considerado também o custo, do produto e o transporte. Há diferentes situações agrícolas que exigem corretivos com diferentes características. 

Ecila Maria Nunes Giracca                            José Luis da Silva Nunes
Eng. Agrª, Drª em Ciência do Solo               Eng. Agrº, Dr. em Fitotecnia

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Produtores devem ficar atentos ao uso do gesso agrícola

É cada vez maior a adesão dos agricultores ao uso dogesso agrícola (sulfato de cálcio) em suas propriedades. Na região do Cerrado, que apresenta cerca de 80% de sua área com algum problema de acidez, como excesso de alumínio associado a baixos teores de cálcio, a utilização do gesso é responsável pela melhora significativa do ambiente radicular em profundidade para as plantas – uma das razões para o uso desse subproduto da indústria de fertilizantes fosfatados na agricultura, cuja composição é 15% de enxofre e 18% de cálcio.
Ao contrário do que muitos acreditam, em solos ácidos, a deficiência de cálcio não ocorre apenas na camada superficial. O problema é constatado também abaixo dos primeiros 20 centímetros do solo, e, nesses casos, a calagem não corrige de forma satisfatória a acidez e a deficiência de cálcio. A aplicação do gesso supre o solo com cálcio e reduz a toxidez do alumínio até as camadas mais profundas. Dessa forma, ela favorece o aprofundamento das raízes e permite que as plantas superem o veranico e utilizem com mais eficiência a água e os nutrientes do solo. A profundidade do solo que a gessagem é capaz de corrigir depende da cultura. Para as anuais, a recomendação é que a gessagem atinja a profundidade de 60 centímetros e para as culturas perenes, 80 centímetros.
O pesquisador Djalma Martinhão, da Embrapa Cerrados, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária localizada em Planaltina (DF), alerta, no entanto, para um erro comum: utilizar o gesso sem saber primeiro se é mesmo necessário. “Para fazer essa avaliação é importante que o agricultor conte com o auxílio de um profissional capacitado para analisar o solo e, assim, verificar se a área apresenta deficiência de cálcio e excesso de alumínio em profundidade”, explica Martinhão.
A tecnologia do uso do gesso na região do Cerrado foi lançada em 1995 e a Embrapa Cerrados foi quem primeiro recomendou seu uso. Nessa época, eram vendidas cerca de 200 mil toneladas por ano, “hoje já atingimos três milhões de toneladas por ano”, informa Martinhão. O sucesso dessa tecnologia, segundo o pesquisador, se deve ao fato de o produto reduzir as perdas em produtividade das plantas quando ocorrem os veranicos e ao aumento da eficiência de uso dos fertilizantes adicionados ao solo.
A amostragem do solo para as análises químicas, explica o pesquisador, deverá ser feita na profundidade de 20 a 40 cm e de 40 a 60 cm para culturas anuais. Para as culturas perenes, ele destaca que também é importante analisar o solo da camada de 60 a 80 cm. Nesses casos, é recomendado que o teor de argila seja determinado. Segundo Martinhão, se os resultados das análises indicarem que a saturação de alumínio é maior do que 20% ou o teor de Cálcio menor que 0,5 cmolc/dm3 há probabilidade de resposta do gesso e este deve ser aplicado ao solo.
Custo da tecnologia
A gessagem é uma tecnologia relativamente barata - uma tonelada de gesso está em torno de R$ 30,00. Dependendo do local da propriedade, o maior custo é o do frete, pois para suprir a região do Cerrado encontra-se gesso em Uberaba (MG) e Catalão (GO). Também é possível comprar o gesso nos estados da região nordeste do país.
Segundo o pesquisador, para cultura do café a relação custo-benefício desse subproduto é muito alta; ficando em torno de R$ 25,00 de ganho em cada real investido no uso do gesso em um período de oito anos. Para culturas como soja e milho, o retorno da aplicação em gesso é de 15 a 25 para um, ou seja, para cada real aplicado o retorno é de R$ 15,00 a R$ 25,00.
Fonte: Embrapa